"Geralmente os bugreiros atacavam por tocaia, à noite, matavam todos os adultos, poupando algumas mulheres e crianças, que eram levadas para as cidades de Blumenau, Florianópolis e outras localidades, onde eram batizadas e adotadas por famílias burguesas ou por religiosos, como o Monsenhor Topp, que adotou um menino Xokleng e argumentava que as crianças deveriam ser poupadas para, depois de treinadas, ajudar na atração de seus parentes. Nesta época, o início do século XX, ganha força a idéia de se atrair os índios e não matá-los, apesar de nos municípios de Blumenau, Joinville, Lages, Orleães, entre outros, os índios continuarem a ser vistos como obstáculo para o progresso, e portanto a serem mortos por bugreiros. " (fonte: https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Xokleng)
Transcrição paleográfica:
"[fl.n.496] [354] 1862 Dezembro 24. Ofício de João Lins Vieira Cansansão de Sinimbú ao Presidente da Província de Santa Catarina, informando estar ciente dos fatos ocorridos na colônia Blumenau com o aparecimento de índios selvagens. Recomenda o emprego de todos os meios para assegurar a vida dos colonos e solicita que não haja violência contar os índios.
Rio de Janeiro. Doc.354, fl.n.496. N.° 89 Secção Directoria das Terras Publicas e Colonisação Rio de Janeiro Ministerio dos Negocios da Agricultura Commercio e Obras Publicas em 24 de Desembro de 1862.
Illustríssimo e Excelentíssimo Senhor.
Tenho presente o officio de Vossa Excelência de 8 do corrente mez em que participa as providencias que deu por occasião dos factos occorridos na Colonia Blumenau com o apparecimento de Indios selvagens;
e approvando-as tanto na parte concernente á força necessaria a manutenção da segurança n’aquelle estabelecimento, como no tocante á auctorisação dada ao respectivo Director para fornecer ferramentas e utencis agricolas ao Colono Christiano Holler ate a importancia de Reis 70$000 como indemnisação dos que lhe forão roubados por aquelles selvagens, recomendo-lhe o emprego de todos os meios accommodados a assegurar a vida e a propriedade dos moradores da Colonia, sem, com tudo, servir-se de violencia contra os Indios senão na deficiencia de qualquer outro recurso, e aguardo a communicação de quaesquer eventualidades que ulteriormente se hajão realisado.
Deus Guarde a Vossa Excelência.
João Lins Vieira Cansansão de Sinimbú.
Senhor Presidente da Provincia de Santa Catharina. R "
"[fl.n.134] [99] 1861 Agosto 28. Circular de Manoel Felizardo de Souza e Mello ao Presidente da Província de Santa Catarina, solicitando que se proceda averiguações a cerca de vários quisitos referentes a serviços de catequese e civilização de índios. Solicita brevidade nos resultados.
Rio de Janeiro. Doc.99, fl.n.134-135v.
Circular. Directoria das Terras Publicas e Colonisação. Secção. Rio de Janeiro. Ministerio dos Negocios da Agricultura, Commercio e Obras Publicas em 28 de Agosto de 1861.
Illustríssimo e Excelentíssimo Senhor.
Sendo urgente methodisar o serviço da Catechese e Civilisação dos Indios, por tal aneira que os esforços e o dinheiro que forem applicados a semelhante empenho deem o proveito desejado, convem que Vossa Excelência, quanto antes, proceda a averiguações acerca dos seguintes quesitos:
-1º quantos aldiaentos existem n’essa Provincia e em que data forão fundados;
-2º de que tribus e de que numero de[sic] almas se compõe;
- 3º quaes as inclinações e os costumes e caracteristicas de cada uma dessas tribus;
- 4º de que desenvolvimento intellectual e moral são os Indios susceptiveis;
- 5º que meios são necessarios para conseguil-o;
-6º o que se ha feito para lhes ensinar as primeiras lettras e as artes fabris;
- 7º que causas tem até o presente obstado a essa obra civilisadora;
-8º que meios é mister empregar para removel-os;
-9º que relações mantem os aldeiamentos com as povoações circunvisinhas;
-10º que patrimonio foi annexado a cada aldeiamento;
-11º que cultura é applicavel ao seu torrão;
-12º quaes são as rendas das aldeias, quanto especialmente produz o arrendamento ou aforamento das [fl.n.134v] terras, como tem sido distribuidas essas rendas, e por quem;
- 13º se as terras do Patrimonio de cada aldeia temm sido conservadas ou usurpadas, e se arrendadas aforadas ou vendidas, e por que auctoridade;
-14º se tiverem sido usurpadas, emm que data, exacta ou provavel, se effectuarão essas invasões, e por qem;
-15º que providencias tem-se dado para reprimir os abusos comettidos contra os Indios;
-16º quantos Missionarios e Cathechistas existem n’essa Provincia em effectivo exercicio e como tem procedido;
-17º se ha ahi Clerigos, seculares ou regulares, em circunstancis de serem aproveitados no serviço da Catechese;
-18º quantas tribus ainda se achão no estado selvagem e em que districtos;
-19º que probabilidade ha de chamal-os á Civilisação;
- 20º o que consta acerca de cada uma em tempos anteriores e que eios se tem empregado para domestical-os;
-21º que medidas são mais accommodadas a boa direcção das tribus aldeiadas e por aldeiar;
-22º se os Indios podem dispensar a tutella dos Directores, para se lhes distribuir lotes de terras, e se vender o res[sic][fl.n.135] der o restante;
-23º e que noticia ha dos Indios que abandonarão os aldeiamentos.
Todos estes pontos e quaesquer outros connexos, que, por ventura, se suggerirem a Vossa Excelência, cumpre sejão esclarecidos e esplicados pela maneira mais minuciosa, especificada, e cabal para satisfação dos desejos do Governo Imperial em tão rave assumpto.
E se não parecerem a Vossa Excelência sufficietes os trammites, pelos quaees ordinariammente se procede a informações é auctorisado a encarregar do trabalho de colhel-as a uma pessôa de reconhecidas habilitações e zelo provado, que estude as diversas questões até, se fôr preciso, nos proprios logares, a que se refirão, mediante uma gratificação rasoavel.
O intuito do Governo Imperial é adquirir a maior somma possivel de luzes sobre a Catechese e Civilisação dos Indios: para conseguil-o ha mister que sejão postas em contribuição todas as pessôas aptas em auxilial-o com deligencia e acerto em suas beneficas intenções.
Es[sic] [fl.n.135v] Espero, por tanto, que Vossa Excelência com a possivel brevidade me transmitta os resultados das indagações, que lhe recommendo, á proporção que os fôr obtendo, não convindo que os demore para envial-os todos ao mesmo tempo.
Deus Guarde a Vossa Excelência.
Manoel Felizardo de Souza e Mello.
Senhor Presidente da Provincia de Santa Catharina"
(Fonte: Transcrição paleográfica [OFÍCIOS DO MINISTÉRIO DOS NEGÓCIOS DA AGRICULTURA, COMÉRCIO E OBRAS PÚBLICAS PARA O PRESIDENTE DA PROVÍNCIA DE SANTA CATARINA DE 1861 1862.])