quinta-feira, 17 de março de 2022

Anna Lafin nascida Roehrigs

Durante muito tempo procurei informações sobre a data e a causa do falecimento de minha bisavó, Anna Lafin, nascida na Colônia Theresopolis em Santa Catarina. Na minha infância, me contaram algumas histórias acerca dela e de acordo com a minha tia, Hildegard, meu avô não queria ouvir falar o nome dela. Minha tia falava bem baixinho, e como tinha uns 6 anos de idade, não guardei as informações dadas por ela mas lembro das atitudes. Ela murmurava sobre o fato dele detestar um arbusto de camélias por lembrar a mãe e de um acidente.

Lembro até do momento, eu estava adorando o perfume das camélias do jardim da minha tia, e ela comentou que o avô não gostava da planta pois lembrava a mãe dele. Eu não deveria perguntar nada ao meu avô e muito menos dizer que ela falou sobre ela. Nem minha avó, Maria, a contadora de histórias, não comentava nada sobre os pais do marido mas apenas sobre as viagens da Alemanha para o Brasil.

O que pesquisei e descobri nos registros sobre 💗Anna Lafin nascida Roehrigs.💓

Nascimento e Batismo

Anna nasceu na Colônia Theresopólis, filha de dois emigrantes alemães da região do Reno, Andreas Roehrigs e Caroline Blasberg.  A família chegou em 1862, com duas filhas, Anna (que faleceu antes do nascimento da minha avó) e Matilde. Não sei quando faleceu a outra Anna, mas a que veio da Alemanha não era a minha bisavó, a minha bisavó nasceu em 1865 na Colônia Theresópolis (ver registros de casamento).  Encontrei os registros de batismo de dois filhos, Albert e Ignácia (Anna foi chamada de Ignácia). Albert nasceu em 06 de setembro de 1862 em Vargem Grande e Anna em 01 de setembro de 1865 na colônia Theresópolis (comparar com registros de casamento). 

Os registros de batismo são da igreja católica e podem ser encontrados no site de genealogia, Familysearch, (compilei os dados para o site e podem ser encontrados lá). Esta Anna é a minha bisavó paterna.

Casamento

A família Roehrigs mudou-se para Blumenau, por volta de 1870, porque as condições das lavouras de Theresópolis eram muito ruins e as terras não produziam o suficiente para o sustento. Eles passaram dificuldades em Theresópolis, como muitos outros colonos que foram para aquela região e "agraciados" com terras improdutivas e por isto, mudaram de cidade ou de estado.  

Registro paroquial da Igreja Evangélica do
casamento de Anna com Hermann, em 
26.06.1887,
Blumenau/SC
Registro no Family Search


Em Blumenau, foram morar na Itoupava Alta. 

Ela casou-se aos  21 anos de idade, em 26 de junho de 1887,  com Hermann,  um dos irmãos  Laffien, conforme os registros da igreja evangélica luterana.

Os registros de confirmação da Igreja Evangélica informam que os pais do noivo, Hermann, August Laffien e Fredericke nascidaViebranz tinham falecido.  O pai de criação era Gustav Otto, portanto os Laffien eram órfãos

Filhos de Anna

O casal Hermann e Anna teve 7 filhos, e um deles foi o meu avô, Johann Lafin.  O primogênito, Wilhelm Carl August Laffien nasceu em 31/12/1887 e o caçula, August Laffin, nasceu em 1904. Uma curiosidade, em um dos registros de August consta que  a nacionalidade dele era argentina.

Histórias da avó Maria Lafin nascida Gunther, esposa de Johann Lafin

Eu recordo de uma história que ela contava sobre a viagem e o navio proveniente da Argentina. De acordo com os relatos dela, uma irmã (Alice) do meu avô quase nasceu no navio argentino. O que me fez relembrar o fato, é o registro com nacionalidade argentina do August,  o que nos leva a supor que o casal, Anna e Hermann tentou a sorte na Argentina mas retornou ao Brasil.

Óbito de Anna

Eu procurei nos registros civis de óbito, em vários anos das cidades de Blumenau,  Indaial, Pomerode, Massaranduba, Jaraguá do Sul  etc para ver se encontrava a data e as causas do falecimento. Supunha que poderia entender um pouco mais do mistério que rondava a vida da minha bisavó. 

As cópias destes registros civis podem ser encontradas no site Family Search. 

Finalmente, em um grupo de genealogia, alguém me passou o registro de óbito e a cidade do falecimento. Para minha surpresa! Ninguém havia comentado sobre a ida dela para Brusque. De acordo com os dados do documento, ela faleceu em 1915 (um mil novecentos e quinze) e o registro do seu óbito só foi realizado em 1927 (um mil novecentos e vinte e sete), ou seja 12 anos depois.

De acordo com o atestado de óbito, ela estava internada no hospital Azambuja de Brusque, na ala dos Alienados, e a causa mortis foi um surto de alienação. O seu tratamento foi feito pelas freiras do Hospital. Elas  não tinham qualquer especialidade na área e não creio que o primeiro médico do hospital tivesse. 

Foi apresentado um atestado ao cartório, 12 anos após o falecimento, informando que ela havia falecido e a causa mortis (ver foto abaixo). 

Informações sobre o Hospital: site da prefeitura de Brusque, temos a seguinte:

" Em 1915, chegou o primeiro médico, o Dr. Mellcop. Por quase 20 anos os atendimentos eram feitos por freiras."

Sei que no ano de 1915, tanto o meu avô, Johann, com 13 anos, meu bisavô com 48 anos e outros filhos moravam em Blumenau. Na ocasião, Wilhelm tinha 28 anos, Reinoldo, 22, Frida, 19,  Olga, 17, Johann, 13, Maria, 12 e Augusto com 11 anos de idade. Wilhelm e Reinoldo, em 1915, já estavam casados.

Não sei se eles tiveram informações sobre o falecimento, mas também é fato que não fizeram o registro do falecimento e ela foi sepultada em cemitério católico em Brusque. Este cemitério era um anexo do hospital. Pelos segredos deve ter sido abandonada no hospício e nestes 12 anos, ninguém a procurou.

Hermann, o esposo,  faleceu em 1949, e,  Caroline, a mãe dela, faleceu em 1936 ou seja muito tempo depois do falecimento da Anna.

Na época haviam muitas dificuldades, uma delas era o idioma, a comunidade, os meus avós e bisavós só falavam alemão. Alguns não entendiam uma palavra em português mesmo tendo nascido no Brasil.  Eles não conseguiam se fazer entender perante os órgaos oficiais, tais como os locais oficiais de registro.  Os meios de transporte eram precário. Pode ser um dos motivos do abandono? 

Outro motivo, naquela época, era a vergonha, as pessoas escondiam as pessoas, como Anna, em quartos separados das suas casas e não permitiam que outras soubessem do problema.

Pensando no conhecimento da época sobre alienação e as torturas que estas pessoas foram submetidas, como tratamento de choque elétrico, da falta de profissionais qualificados, do hospital e o histórico oficial, algumas perguntas ficaram em aberto:

Será que os familiares foram informados do falecimento?

Será que ela foi abandonada durante mais de 12 anos pelos familiares? 

Será que registraram o falecimento devido a visita de algum parente?

Como ela foi sepultada sem o registro civil do óbito? 

 Será que ela era alienada? 


Registro civil de óbito de Anna Lafin numero 26. 

Livro para inclusão: Artigo sobre o tratamento de alienados.

💝Homenagem: 💙💚💛💜💓💝

Anna Lafin, filha e esposa de pioneiro, teve 7 filhos. Todos constituíram as suas próprias famílias. Ela viveu muito tempo em lugares distantes e precários. Criou, cuidou, alimentou e amamentou 7 filhos mas faleceu abandonada em um hospício, com direito a tratamento de choque. 

Conhecer um pouco sobre a sua existência era desvendar um dos grandes segredos da família Laffin. 💙💚💛💜💓

http://www.polbr.med.br/ano03/wal0503.php

Nenhum comentário:

Postar um comentário